Por Luciano Almeida, advogado e colunista da Folha Metropolitana
Moro no primeiro andar, em um pequeno prédio localizado no Jardim América, o bairro mais populoso de Goiânia.
Meu prédio tem cinco andares. Dois apartamentos por andar. Dez famílias que se conhecem e convivem harmoniosamente, Graças a Deus.
Gosto desse clima colaborativo que a gente encontra em pequenas comunidades. A gente segura a porta do elevador e espera o vizinho que vem carregando as compras do supermercado. É tudo diferente e tudo mais cordial.
Uma vez uma vizinha nossa do quarto andar caiu andando na rua e machucou muito o rosto. Ela é bem idosa e não conseguiu aparar a queda com as mãos. Pois bem, a minha vizinha de andar, que é odontóloga, foi ao apartamento da pobre velhinha para prestar atendimento e os devidos cuidados.
Você que está lendo esta crônica já percebeu que eu gosto de morar onde eu moro.
Gosto mesmo e, além dos motivos que eu já mencionei, eu adoro caminhar e fazer compras pelo Jardim América.
O comércio no Jardim América é muito forte. Você encontra de tudo: açougues, supermercados, salões de beleza, bares (tem aos milhares), lojas de materiais de construção, mecânicas, enfim, a lista é infindável.
Ah, esqueci das padarias (lá tem uma que faz o melhor pão do Brasil) e de falar da feira livre do CEPAL, onde é vendida a melhor pamonha de Goiás que, por consequência lógica, merece o título de melhor pamonha do mundo. Pamonha a moda neste tempo de chuva... Hummmm.
Tem três supermercados em um raio de mil metros da minha casa. Como disse, faço muitas compras caminhando pelo Jardim América. Encontro rostos conhecidos pelas ruas, cumprimento as pessoas e estico um pouco a conversa. É isso que cria o bem e velho espírito de pertencimento.
Infelizmente as atuais autoridades desconhecem o poder que o comércio tem de atrair o progresso de uma região e de criar comunidades.
A maioria das nossas grandes cidades eram, no seu início, entrepostos comerciais. Posso citar Salvador - BA, Recife - PE, Santarém – PA, Porto Alegre – RS, Corumbá – MS, São Luís – MA eCuiabá – MT.
Fiz referência às grandes cidades, mas centenas de pequenas cidades do Brasil devem asua existência ao comércio. O comércio está forte? O resto vem a galope. Moradores, frequentadores, consumidores e investidores.
Estou tocando neste assunto porque fico impressionado com a incapacidade da administração municipal de Goiânia em apoiar a revitalizar o comércio na região central de Goiânia.
Quer revitalizar o Centro? O primeiro passo é dar atenção ao comércio e aos comerciantes!
Duvido que algum comerciante tenha sido ouvido nos últimos anos pelo poder público. Duvido que alguma reivindicação tenha sido considerada. Todos os projetos da administração não passaram de marketing e, com isso, passam os anos e o prejuízo da sociedade só aumenta.
O comércio fica fraco. A região fica decadente. A sensação de insegurança começa a aflorar. Os moradores buscam refúgio em outras regiões da cidade. Nossa história vai sendo apagada.
Nossa arquitetura art decó é espetacular. Nossas casas históricas são lindas. Nosso patrimônio cultural precisa ser preservado. A economia do Centro precisa ser apoiada. Não podemos perder tudo o que foi construído por gerações de homens e de mulheres de boa vontade.
Passei a infância acompanhando a minha boa mãe quando ela ia fazer compras na região central da cidade. Roupas na Green House, armação de óculos na Óticas Alaor, cachorro-quente nas Lojas Americanas, garapa na Praça Cívica, sapatos... não lembro mais o nome da loja.
A memória de uma pessoa pode acabar, mas a memória coletiva de Goiânia não pode. Preservar a nossa memória e a nossa história é um dever de cada morador desta cidade e boa parte de uma riqueza cultural e econômica está localizada no Centro da cidade.
Sabe, a economia decide eleições. Decide nos EUA e no Brasil. Um marqueteiro americano deu uma boa resposta à pergunta do jovem candidato Bill Clinton, que estava em dúvida sobre o que falar durante a campanha: “É a economia, estúpido.”
Se a economia decide uma campanha em nível nacional, acredito que em nível local o que pode decidir é o comércio. Então bora lá gritar para o administrador que não sabe ajudar a região central de Goiânia: É o comércio, estúpido.