Uma mulher me ligou. Ela tinha o meu telefone, CPF, agência e número de minha conta corrente. Ela não me perguntou nada. Apenas leu meus dados e, a cada um deles, pedia que eu confirmasse se estava certo. Depois disto, ela me informou que minha conta havia sido invadida no Rio de Janeiro por um telefone que eu desconhecia e que havia tentado fazer uma transação de oitenta mil reais, mas que o banco havia bloqueado para confirmação. No auge do choque, ela pediu que eu acessasse minha conta para concluir o bloqueio. Neste momento, eu disse mais ou menos assim: “não vou estar podendo”. E ela educadamente desligou me dizendo que ligaria em outro momento.
Esta pessoa sabia todos os meus dados pessoais, inclusive número de conta bancária, agência, CPF, nome e telefone. A tranquilidade com que falava e o conhecimento que demonstrava, não deixou dúvidas de que era, de fato, uma representante do banco. O único erro dela, insignificante por sinal, foi dizer que o invasor tentou aumentar o limite do meu cheque especial. Esta palavra “especial” pegou. Há quase 10 anos não uso cheques e não tenho cheque especial. Mas este deslize tão banal, não seria suficiente para alertar uma possível vítima. Além da providência Divina, salvou-me o fato de que não abro nada no telefone a pedido de qualquer estranho que me ligue. Seja ele gerente de banco ou não.
O profissionalismo no crime não é coisa nova. Embora a tecnologia tenha dado margem para um sem número de novos golpes, desde 2013 temos uma lei para combater as organizações criminosas. E posso afirmar que elas não nasceram por causa da lei. O homem já se organizava para lesar outros em tempos remotos de nossa civilização.
A população pede penas mais severas a cada novo choque ante a brutalidade ou frieza dos criminosos. Não que haja alguma moralidade em algum tipo de criminoso. Mas quando o criminosos vitima alguém indefeso, parece ainda mais repugnante a sua ação. Então, a indignação popular busca a única medida aparentemente eficaz: aumentar a pena. Não é aceitável que a tibieza das autoridades seja o verdadeiro alimento que sustenta a voracidade do crime.
Estamos convivendo com as noticias do rombo do Instituto Nacional do Seguro Social, o INSS. O desfalque chega, segundo alguns especialistas, na casa dos 300 bilhões. O governo diz que nada sabia do que estava acontecendo, que o rombo veio do governo anterior e que está tomando as medidas possíveis para achar os culpados. Mas é contra a CPI que vai apurar os envolvidos e atribuir responsabilidades. Ao mesmo tempo, anuncia que vai devolver o dinheiro para as vítimas, tirando dinheiro dos sindicatos pagos por quem? pelas vítimas. Menos o sindicato do irmão do desinformado governante.
Que lei ou quantidade de pena inibiria este tipo de crime, onde NINGUÉM será responsabilizado além das próprias vítimas? Óbvio que não precisamos de leis mais severas. Precisamos de leis que sejam cumpridas sem interferência política. O que faz uma pessoa me ligar tentando dar um golpe e roubar meu dinheiro, é o mesmo que faz um agente financeiro dar golpe na aposentadoria de um velhinho desinformado. Afinal, eu também sou um velhinho aposentado.
RAPIDINHA: Demóstenes Torres, pessoa que pessoalmente respeito e admiro, advoga para o Almirante Almir Garnier no caso 8 de janeiro. Para ele, a suspensão do processo contra Alexandre Ramagem (PL-RJ) deve contemplar todos os acusados já que o artigo 53 da Constituição, utilizado para beneficiar Ramagem, contempla a todos os envolvidos. A respeito deste assunto Demóstenes teria dito: “Não há como negar que são atos conexos. Como é que não vai julgar Ramagem e vai julgar os demais? Além do que, a Constituição fala que suspenderam a ação. E a ação, é uma só para todo mundo. Agora, se você me perguntar se eu tenho expectativas de que o direito vai ser aplicado, isso é outra coisa. Quem pode responder é o Supremo”. Demóstenes é homem experimentado no direito e na política. Ao dúvidar que a Suprema corte vai cumprir a lei, não o faz por ignorância. Faz sabendo que a lei não vale nada neste país, independente da pena que ela preveja. sua eficácia se vincula a pessoas e não fatos. Não há segurança em um país assim. Nem para jovens e nem para os velhos.
AVELAR LOPES DE VIVEIROS - CEL PM
ESPECIALISTA EM SEGURANÇA