Dedico este texto aos meus mais novos colegas na advocacia. Não estou aqui para dar lição de moral. Não sou coach e não pretendo ser.
Escrevo na posição de um advogado com uns bons anos de estrada e que se graduou em Direito casado e com dois filhos para criar.
Imagino que seja o caso de inúmeros colegas que foram, são e serão aprovados na OAB: a advocacia tem que dar certo. Não tem plano B. Ou é isso ou é nada.
Ilude-se quem vê fotos bonitas no Instagram e acha que a advocacia é aquilo. Fico feliz pelos colegas que conseguem prosperar, mas tenho certeza de que eles trabalharam muito para chegar aonde estão agora.
Como em qualquer outra área, a concorrência no mercado de trabalho é cruel para advogados. Quem acabou de fazer o Exame da Ordem sabe exatamente do que eu estou falando. Todos os anos, 120 mil candidatos tentam obter sua licença para advogar no Brasil.
Estes candidatos vieram de um dos 1896 cursos de Direito credenciados ao Ministério da Educação. Os aprovados se juntarão à multidão de 1,3 milhão de advogados exercendo a profissão regularmente.
Somente a Índia, que tem uma população cinco vezes maior que a nossa, tem mais advogados. Na proporção advogado por habitante, somos os campeões mundiais: a cada 164 brasileiros, existe um advogado. Em Portugal, para efeito de comparação, é 1 advogado para 625 pessoas.
Eu me deparo, às vezes, com alguns advogados jovens desanimados e frustrados com a carreira. Sentem-se até enganados. “Me disseram que em cinco anos as coisas iam começar a melhorar”, já ouvi uns dizendo, como se houvesse um prazo certo para o sucesso.
Se você está prestes a se formar, está estudando para o Exame ou acabou de pegar sua carteira, aqui vão duas verdades para te acalmar, mas ainda assim difíceis de engolir.
Primeiro: não vai ser fácil. Nos primeiros anos (impossível dizer quantos), muito provavelmente você não vai viver da advocacia, você vai sobreviver da advocacia.
O começo da carreira para praticamente todo mundo é desafiador. Não só para advogados, mas qualquer um. Você vai ganhar pouco, vai trabalhar muito, vai quebrar a cabeça, vai aprender a se virar.
Segundo: A advocacia está mudando. O mundo está. Você que é jovem vai se familiarizar com este mundo novo mais facilmente do que eu. Advogados que dominarem inteligência artificial serão valiosos como diamante no mercado, para citar apenas um exemplo de um novo tipo de profissional jurídico e em quem você ainda tem tempo para se tornar.
Se você acreditou que a advocacia seria fácil, sinto muito, mas não é verdade. No entanto, vale muito a pena. Sou a prova viva disso.
David Soares, Advogado Criminalista e Conselheiro Federal da OAB, presidente da ANACRIM-GO.