DIA INTERNACIONAL PARA ELIMINAÇÃO TOTAL DAS ARMAS NUCLEARES

O CLARÃO DA INSENSATEZ — 78 ANOS DO COGUMELO ATÔMICO

       Há exatamente 78 anos o mundo assistiu estupefato, oshorrores da insanidade humana, sob o pretexto de uma beligerânciaestúpida, testemunho de força e arrogância dos USA, contra o outrora sanguinário algoz asiático. Vidas inocentes, ceifadas precocemente, em nome da famigerada perversidade bélica.

        É claro que o Japão e seus aliados — Alemanha nazista, a Itália fascista — na Segunda Guerra Mundial, contribuíram para um desfecho trágico — não que se justifique —, como o ataqueaeronaval da Marinha Imperial Japonesa, a base navalestadunidenses de Pearl Harbor no Havaí, em 7 de dezembro de 1941. A resposta veio naquela fatídica e apocalíptica manhã de 6 de agosto de 1945 e os japoneses, foram usados como cobaias humanas para as aspirações estadunidenses, que se confirmaram no pós-guerra. Uma resposta desproporcional, com objetivos muito além do que “apenas” punir ou vingar dos japoneses.

        Roosevelt o grande idealizador do famoso Projeto Manhattan, consumiu vultosos investimentos sem precedentes na história, esforço concentrado que envolvia os maiores físicos, químicos e cientistas da época, que após anos de pesquisas e milhões de dólares, estava pronta a mais letal arma que a humanidade já havia criado, a bomba atômica!

        Quando o pássaro alado gigante, USS Indianópolis B-29, vomitou sobre a cidade industrial de Hiroshima, a radioativa e mortífera “Little Boy”, com um indigesto recheio de Urânio — 235 e liberando uma energia equivalente a 20 mil toneladas de TNT.Uma temperatura acima de 1 milhão de °C, sentida em um raio de 3 km de distância, provocando uma onda de choque, um vento que varreu Hiroshima a uma velocidade mais ou menos de 1.000 km/h. Acompanhada da bola de fogo, 100 vezes mais luminosa que o sol, um espetáculo patético sob o clarão da insensatez. Salve a inteligência humana e sua estúpida capacidade de autodestruição em nome do poder, da glória e da paz.

           Robert Oppenheimer, afirmou “tornei-me a morte, destruidor de mundos”, grande cientista estadunidense, conhecido como o “pai da bomba atômica”. Demonstrou ao mundo a capacidade inequívoca para o massacre e a destruição em massa, pela glória dos vencedores e a catástrofe dos povos subjugados. “Se matamos uma pessoa somos assassinos. Se matamos milhões de homens, celebram-nos como heróis”, declarou o genial Charlie Chaplin.

          A intensidade do impacto e o calor humano produzido pela racionalidade, muitas vítimas foram tragadas instantaneamente, evaporaram-se. Outras, calcinadas, dependendo do raio que se encontravam do epicentro da bomba. Estava rascunhado o tenebroso roteiro de um clássico filme de terror na terra do sol nascente. Zumbis-humanos, descarnando vivos, derretendo como cera aquecida, gestantes com seus ventres abertos, qualhando o rio Ota-gawa de corpos cinzentos, retorcidos e mutilados. Centenas, milhares de pessoas, pais, filhos, irmãos, todos igualmente vítimas da mesma dor, dilacerados pela covardia do inimigo e a honra da guerra, desesperados entre feridas cálidas e dolorosas, numa tentativa derradeira, do bálsamo e de delírio, mergulhavam nas águas turvas de sangue e indignação, em um abraço de afogados.  

          Não bastasse o martírio dos mortos-vivos, ainda foram agraciados por uma chuva negra, ácida, manchando a terra com o legado cancerígeno, cadáveres inocentes e insepultos, vítimas da brutalidade dos heróis e do terror atômico.

         Após três dias da explícita demonstração da capacidade da maldade humana, discutido em Hobbes, “homem é o lobo do homem” em Hiroshima, foi a vez de outra cidade japonesa, Nagazaqui. Foi escarrada a também mortal “Fat Man”, recheada de Plutônio – 239, resultando em outro cenário catastrófico, assistido com perplexidade, pela segunda vez. A contabilidade funesta do genocídio oficial, sob aplausos de nobres soberanos e seus comparsas, foram em torno de 200 mil mortos — 120 mil em Hiroshima e 80 mil em Nagazaki —, além é claro, dos que morrem até hoje, vítimas de doenças congênitas, herança maldita dos que sobreviveram à hecatombe nuclear, que foram contaminados com exposição à radiação dos ataques.

         A barbárie em nome da paz, descortinava a Era Nuclear, numa demonstração de força e exaltação da democracia padrão Tio Sam e da rendição incondicional japonesa. Que silenciou com a estupidez das armas nucleares e insanas, crianças, idosos, mulherese inocentes. Que pagaram com o sangue vertido pela diplomacia atômica, frente a demência dos “mocinhos” da América, ad aeternun salvadores do mundo, cumprindo a missão divina de dominar — o Destino Manifesto —, a serviço da vingança com nome de justiça e da covardia, com status de glória, ovacionados pelos homens de bem!

        Que a História e o distanciamento histórico dos fatos, continue ensinando a humanidade, ainda que, a penosas lições, asconsequências de suas ações, reflexões e o árduo labor das transformações. O passado imutável, latente, instrui e mantém viva a memória crítica, as vozes silenciadas, que constroem uma realidade revolucionária que reverbera. Mudar o presente de injustiças, desigualdades e invisibilidades, frente aos Organismos Internacionais, significa a possibilidade de um futuro ainda que incerto, um pouco mais esperançoso e pacífico. Como na mitológica Fênix, o povo japonês buscou nas cinzas o que o fogo queimou, reconstruindo um Japão ainda mais grandioso, admirável e inspirador.

         Que o Dia Internacional para Eliminação Total das Armas Nucleares, instituído pela ONU como 26 de setembro, possibilite ao mundo, que jamais se esqueçam das guerras, das ogivas nucleares espalhadas pelo mundo e da barbárie humana, para que cultivemos a verdadeira paz propalada, a tolerância e a convivência pacífica. Evocar, refletir e reverenciar as vítimas do terrorismo nuclear vivido em Hiroshima e Nagazaki, bem como, suas dores e seus tormentos. E todos aqueles, conhecidos ou anônimos, que dividem a mesma vala comum da indigência, da injustiça e da amnésia histórica. Como se gritassem: “nós que aqui estamos por vós esperamos”.

          Portanto, historicamente, “na luta do bem contra o mal, ésempre o povo que morre”, afirmou Eduardo Galeano.

Marcos Manoel Ferreira, Professor, Pedagogo, Historiador e Escritor. Doutorando (Aluno Especial); Mestre em História – Cultura, Religião e Sociedade; Especialista em História e Cultura Afro-brasileira e Africana; Especializando em Relações Internacionais; Pedagogo com Habilitação em História da Educação Brasileira e Historiador. professormarcosmanoelhist@gmail.com

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